Evento busca subsídios para a criação de um plano de ação integrada para a saúde humana, dos ecossistemas e do planeta
Representantes da Universidade de São Paulo (USP), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Convenção sobre Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidas (CDB/ONU), Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA), The Rockefeller Foundation–Lancet Comission on Planetary Health e hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês estiveram reunidos na quinta-feira, 24 de setembro, para discutir um plano de ação integrado que contribua para a saúde dos ecossistemas, humana e planetária.
O painel “Planetary health: a challenge for public health” foi organizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, pela CDB/ONU e pelo Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Computação da USP (BioComp), em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e com The Rockefeller Foundation-Lancet Commission on Planetary Health.
O encontro é o primeiro passo no sentido de formar uma rede de especialistas e instituições brasileiras que possam integrar a iniciativa internacional que busca propor ações visando à saúde planetária, humana e dos ecossistemas.
Para subsidiar o debate, o público presente foi estimulado a ler antecipadamente os relatórios “Connecting Global Priorities: Biodiversity and Human Health”, resultado de uma colaboração entre a OMS e a CDB, e “Safeguarding human health in the Anthropocene epoch”, produzido pela The Rockefeller Foundation–Lancet Commission on Planetary Health. Os dois documentos foram apresentados em palestras por representantes de suas respectivas instituições: Bráulio Dias, secretário executivo da CDB/ONU e Andy Haines, professor da London School of Hygiene and Tropical Medicine, que representou a The Rockefeller Foundation-Lancet Commission on Planetary Health.
“Parabenizamos os organizadores pela iniciativa de trazer os relatórios e divulgá-los no Brasil, promovendo essa reflexão sobre como podemos propor algo efetivo e concreto para que haja essa aproximação da saúde planetária com a saúde humana. Para dar só um exemplo do que o Sistema Ambiental Paulista já está fazendo aqui em São Paulo, uma das prioridades da atual gestão é a questão da restauração. A restauração ecológica leva ao fortalecimento dos serviços ecossistêmicos, que leva a uma melhor saúde planetária (ambiental) e consequentemente à saúde humana”, afirmou Cristina Azevedo, secretária adjunta do Meio Ambiente.
Saúde planetária, saúde para todos
É inegável que no último século a tecnologia ajudou a melhorar bastante a saúde humana. No entanto, o desenvolvimento humano também é responsável pela contínua e acelerada degradação dos ecossistemas, pondo em risco a saúde da presente e futuras gerações.
Os dois relatórios que subsidiaram o debate foram lançados recentemente e abordam a relação entre a saúde do planeta e a saúde humana. Os textos apontam inúmeras questões que tendem a se agravar no tocante à saúde humana e que são decorrentes do declínio dos serviços ecossistêmicos (que, por sua vez, é associado à degradação ambiental no planeta, impulsionada pelo desenvolvimento econômico).
Os problemas apontados nos documentos são os mais diversos e vão desde a diminuição da segurança alimentar (decorrente de perda do solo, escassez hídrica, diminuição da variedade genética, uso de agrotóxicos – que tem consequências severas para a vida selvagem e para a vida humana, aumento de vulnerabilidade a pragas, etc.); disseminação de doenças provocadas por hospedeiros que vivem na água de baixa qualidade ou que, tendo seu ecossistema natural ameaçado, buscam as cidades em busca de alimento; baixa qualidade do ar nas grandes cidades, decorrente do uso em larga escala de combustíveis fósseis ou de carvão vegetal, por exemplo; redução dos polinizadores dos ambientes naturais, seja porque seus ecossistemas naturais estão degradados/desequilibrados ou por causa do uso excessivo de pesticidas; escassez de áreas verdes para a população (estudos têm comprovado que a falta de contato das pessoas com áreas naturais prejudica a saúde, causa stress e deficiência de saúde corporal e mental); aumento do número de áreas degradadas propiciando a proliferação de algumas espécies transmissoras de doenças (barbeiros preferem se abrigar em palmeiras que se surgem em áreas degradadas e o inseto transmissor da malária também se adapta muito bem em regiões desmatadas); escassez de matéria-prima para a produção de medicamentos; extinção de espécies que poderiam servir para o desenvolvimento de novas drogas no futuro; qualidade nutricional dos alimentos em declínio; fenômenos climáticos extremos decorrentes das mudanças climáticas que afetam diretamente a saúde das pessoas e dos ecossistemas; doenças decorrentes da falta de acesso à água ou à água de qualidade. Isso para citar só alguns exemplos das relações entre saúde do planeta, saúde dos ecossistemas e saúde humana.
Os relatórios alertam para a necessidade de providências urgentes que possam reverter essa situação.
“A realidade é que o grau de destruição do meio ambiente está chegando a tal ponto que já começa a pôr em risco a manutenção das nossas condições de saúde, de acesso à água, ao ar e ao alimento de boa qualidade. Eu agradeço à USP pelo interesse de organizar esse evento para discutirmos esses dois grandes relatórios globais e descobrirmos como podemos mobilizar a academia e as demais instituições brasileiras nesses dois setores – saúde e meio ambiente – explorando da melhor forma possível as áreas de interesse comum”, destacou Bráulio Dias.
O plano de ação para enfrentar este desafio está em fase de construção. Inclusive, um dos objetivos do painel era coletar contribuições do público e dos especialistas para tratar melhor essa grande interface entre meio ambiente e saúde.
Alguns exemplos de soluções em potencial são: incentivo ao transporte público como forma de melhorar a qualidade do ar; fomento de espaços verdes para a biodiversidade (criação de áreas protegidas, restauração ambiental, etc.); conservação florestal; redução do desperdício de alimento; incentivo à adoção de hábitos alimentares saudáveis; desenvolvimento da agricultura sustentável; estímulo a atividades econômicas que contribuam com a redução de emissões de gases de efeito estufa (economia verde); estímulo à economia circular; expansão da aquicultura; integração da questão da saúde planetária com os objetivos do desenvolvimento sustentável; criação de políticas e subsídios que apoiem a saúde planetária; aumentar o acesso ao planejamento familiar moderno; entre muitas outras propostas.
As cinco diretrizes estratégicas da plataforma de gestão adotada pelo Sistema Ambiental Paulista (AmbienteSP) convergem de forma a contribuir com muitos desses desafios. São elas: (1) Conservação Ambiental e Restauração Ecológica, (2) Redução da Pegada Ambiental, (3) Vulnerabilidade Ambiental e Mudanças Climáticas, (4) Gestão e Conservação da Fauna Silvestre e (5) Licenciamento Ambiental.
Postado por Carlos PAIM
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