sexta-feira, 7 de outubro de 2016

SMA participa de painel sobre saúde planetária


Evento busca subsídios para a criação de um plano de ação integrada para a saúde humana, dos ecossistemas e do planeta

Antonio Mauro Saraiva (USP), José Eduardo Krieger (USP), Cristina Azevedo (SMA), Vahan Agopyan (USP), José Goldemberg (FAPESP), Braulio Dias (ONU)
Antonio Mauro Saraiva (USP), José Eduardo Krieger (USP), Cristina Azevedo (SMA), Vahan Agopyan (USP), José Goldemberg (FAPESP), Bráulio Dias (ONU)
Representantes da Universidade de São Paulo (USP), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Convenção sobre Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidas (CDB/ONU), Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA), The Rockefeller FoundationLancet Comission on Planetary Health e hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês estiveram reunidos na quinta-feira, 24 de setembro, para discutir um plano de ação integrado que contribua para a saúde dos ecossistemas, humana e planetária.
O painel “Planetary health: a challenge for public health” foi organizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, pela CDB/ONU e pelo Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Computação da USP (BioComp), em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e com The Rockefeller Foundation-Lancet Commission on Planetary Health.
O encontro é o primeiro passo no sentido de formar uma rede de especialistas e instituições brasileiras que possam integrar a iniciativa internacional que busca propor ações visando à saúde planetária, humana e dos ecossistemas.
Para subsidiar o debate, o público presente foi estimulado a ler antecipadamente os relatórios “Connecting Global Priorities: Biodiversity and Human Health”, resultado de uma colaboração entre a OMS e a CDB, e “Safeguarding human health in the Anthropocene epoch”, produzido pela The Rockefeller Foundation–Lancet Commission on Planetary Health. Os dois documentos foram apresentados em palestras por representantes de suas respectivas instituições: Bráulio Dias, secretário executivo da CDB/ONU e Andy Haines, professor da London School of Hygiene and Tropical Medicine, que representou a The Rockefeller Foundation-Lancet Commission on Planetary Health.
“Parabenizamos os organizadores pela iniciativa de trazer os relatórios e divulgá-los no Brasil, promovendo essa reflexão sobre como podemos propor algo efetivo e concreto para que haja essa aproximação da saúde planetária com a saúde humana. Para dar só um exemplo do que o Sistema Ambiental Paulista já está fazendo aqui em São Paulo, uma das prioridades da atual gestão é a questão da restauração. A restauração ecológica leva ao fortalecimento dos serviços ecossistêmicos, que leva a uma melhor saúde planetária (ambiental) e consequentemente à saúde humana”, afirmou Cristina Azevedo, secretária adjunta do Meio Ambiente.

Saúde planetária, saúde para todos

É inegável que no último século a tecnologia ajudou a melhorar bastante a saúde humana. No entanto, o desenvolvimento humano também é responsável pela contínua e acelerada degradação dos ecossistemas, pondo em risco a saúde da presente e futuras gerações.
Os dois relatórios que subsidiaram o debate foram lançados recentemente e abordam a relação entre a saúde do planeta e a saúde humana. Os textos apontam inúmeras questões que tendem a se agravar no tocante à saúde humana e que são decorrentes do declínio dos serviços ecossistêmicos (que, por sua vez, é associado à degradação ambiental no planeta, impulsionada pelo desenvolvimento econômico).
Os problemas apontados nos documentos são os mais diversos e vão desde a diminuição da segurança alimentar (decorrente de perda do solo, escassez hídrica, diminuição da variedade genética, uso de agrotóxicos – que tem consequências severas para a vida selvagem e para a vida humana, aumento de vulnerabilidade a pragas, etc.); disseminação de doenças provocadas por hospedeiros que vivem na água de baixa qualidade ou que, tendo seu ecossistema natural ameaçado, buscam as cidades em busca de alimento; baixa qualidade do ar nas grandes cidades, decorrente do uso em larga escala de combustíveis fósseis ou de carvão vegetal, por exemplo; redução dos polinizadores dos ambientes naturais, seja porque seus ecossistemas naturais estão degradados/desequilibrados ou por causa do uso excessivo de pesticidas; escassez de áreas verdes para a população (estudos têm comprovado que a falta de contato das pessoas com áreas naturais prejudica a saúde, causa stress e deficiência de saúde corporal e mental); aumento do número de áreas degradadas propiciando a proliferação de algumas espécies transmissoras de doenças (barbeiros preferem se abrigar em palmeiras que se surgem em áreas degradadas e o inseto transmissor da malária também se adapta muito bem em regiões desmatadas); escassez de matéria-prima para a produção de medicamentos; extinção de espécies que poderiam servir para o desenvolvimento de novas drogas no futuro; qualidade nutricional dos alimentos em declínio; fenômenos climáticos extremos decorrentes das mudanças climáticas que afetam diretamente a saúde das pessoas e dos ecossistemas; doenças decorrentes da falta de acesso à água ou à água de qualidade. Isso para citar só alguns exemplos das relações entre saúde do planeta, saúde dos ecossistemas e saúde humana.
Os relatórios alertam para a necessidade de providências urgentes que possam reverter essa situação.
“A realidade é que o grau de destruição do meio ambiente está chegando a tal ponto que já começa a pôr em risco a manutenção das nossas condições de saúde, de acesso à água, ao ar e ao alimento de boa qualidade. Eu agradeço à USP pelo interesse de organizar esse evento para discutirmos esses dois grandes relatórios globais e descobrirmos como podemos mobilizar a academia e as demais instituições brasileiras nesses dois setores – saúde e meio ambiente – explorando da melhor forma possível as áreas de interesse comum”, destacou Bráulio Dias.
O plano de ação para enfrentar este desafio está em fase de construção. Inclusive, um dos objetivos do painel era coletar contribuições do público e dos especialistas para tratar melhor essa grande interface entre meio ambiente e saúde.
Alguns exemplos de soluções em potencial são: incentivo ao transporte público como forma de melhorar a qualidade do ar; fomento de espaços verdes para a biodiversidade (criação de áreas protegidas, restauração ambiental, etc.); conservação florestal; redução do desperdício de alimento; incentivo à adoção de hábitos alimentares saudáveis; desenvolvimento da agricultura sustentável; estímulo a atividades econômicas que contribuam com a redução de emissões de gases de efeito estufa (economia verde); estímulo à economia circular; expansão da aquicultura; integração da questão da saúde planetária com os objetivos do desenvolvimento sustentável; criação de políticas e subsídios que apoiem a saúde planetária; aumentar o acesso ao planejamento familiar moderno; entre muitas outras propostas.
As cinco diretrizes estratégicas da plataforma de gestão adotada pelo Sistema Ambiental Paulista (AmbienteSP) convergem de forma a contribuir com muitos desses desafios. São elas: (1) Conservação Ambiental e Restauração Ecológica, (2) Redução da Pegada Ambiental, (3) Vulnerabilidade Ambiental e Mudanças Climáticas, (4) Gestão e Conservação da Fauna Silvestre e (5) Licenciamento Ambiental.

Postado por Carlos PAIM

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