Contra epidemias, países ricos lançam plano para 'exército global' de médicos
Projeto será apresentado na reunião do G7 neste domingo (7), na Alemanha, segundo informações obtidas pela BBC.
Um plano para se criar uma força-tarefa global de 10 mil médicos e cientistas contra epidemias será apresentado na próxima reunião do G7, grupo formado por representantes das maiores economias de países desenvolvidos - Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos - no próximo domingo (7), na Alemanha, segundo apurou a BBC.
Trata-se de uma reposta direta ao recente surto de ebola, o maior já registrado, com 27 mil vítimas na África Ocidental.
O projeto prevê ainda melhorias no sistema de monitoramento de doenças, especialmente em países mais pobres, e investimentos no desenvolvimento de novas drogas. Especialistas dizem que tais medidas teriam impedido que a epidemia de ebola atingisse uma escala sem precedentes.
"Discutiremos como nos preparar melhor para tais surtos, como preveni-los e como reagir mais rápido quando eles ocorrerem", disse a chanceler (premiê) alemã e atual presidente do G7, Angela Merkel, em artigo publicado nesta semana, com base em conselhos recebidos do empresário Bill Gates, de empresas farmacêuticas e de especialistas em saúde pública.
"A criação de uma força-tarefa global, com um financiamento adequado, é sem dúvidas um objetivo de médio prazo, mas talvez deveríamos analisá-lo agora."
Documentos aos quais a BBC News teve acesso detalham que esta equipe de médicos e cientistas funcionaria como uma reserva militar. Eles de dedicariam a seus trabalhos pessoais normalmente, mas estariam prontos para irem a campo quando requisitados. O projeto ainda prevê um novo grupo independente dentro da Organização Mundial da Saúde (OMS), responsável por lidar com epidemias.
Também seriam criados centros de testes em países-chave, a maioria deles na África Subsaariana, com um custo anual estimado em US$ 15 milhões (R$ 45 milhões), além de investimentos da ordem de US$ 100 milhões em pesquisas de medicamentos, exames e vacinas, com foco em dez doenças, como o coronavírus MERS, a febre de Lassa e novos tipos de vírus da gripe.
'Grande impacto'
Um dos conselheiros de Merkel, o médico Jeremy Farrar, diretor do Wellcome Trust, fundação dedicada a temas de saúde, alerta que não se deve subestimar os custos gerados pelas epidemias.
"Os custos relacionados à epidemia mais recente de ebola devem ficar em torno de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões. Há dez anos, o vírus Sars teve custos semelhantes", afirma Farrar. "Já o dinheiro que seria gasto com pesquisa, monitoramento e o preparo necessário para agir nestes casos seriam uma fração disso."
Jonathan Ball, professor de virologia da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, avalia que a resposta ao surto de ebola foi lenta e que isso levou a um aumento exponencial dos casos de contágio no fim do ano passado. "O monitoramento e diagnóstico são cruciais para identificar epidemias assim que elas começam e podem ter um grande impacto em seu controle."
"Isso teria impedido que o ebola se espalhasse tanto na África", complementa Ball. "É difícil prever quando e onde ocorrerá um novo surto, mas, se a comunidade global estiver preparada para reagir de forma ágil, poderemos contê-lo antes que se alastre demais. Por isso, medidas como essas são muito importantes."
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